Sunday, August 25, 2013

E quando você encontra um antigo amor na rua? Você sorri, diz oi, tentar fazer com que ele repare que você está mais bonita, finge que ele é só uma pessoa qualquer. Olha para ele e fala: sabe, eu não sei me apaixonar mais e talvez você tenha alguma culpa nisso. Ok, eu não gosto da palavra culpa, então vamos mudar o discurso. Sabe, eu sou meio escangalhada e talvez tenha dedo seu nisso. Talvez? Não, né?
Daí no dia seguinte você acorda e sente a cama meio pequena, olha para o lado e lá está ele.
Então você acorda, e acorda e acorda e acorda. E encontra outro antigo amor na rua, mas esse está acompanhado e o novo amor do antigo amor não deixa ele falar com você. Mas com certeza curiosidade você de vez em quando olha para o novo casal e tenta entender como eles são tão felizes. E como você é tão escangalhada. E você continua olhando porque realmente não entende muito bem como funciona toda aquela felicidade dos respectivos amantes. Eles se dão as mãos, se beijam, não sorriem muito mas não sorriem pouco, sorriem o suficiente para você e todo mundo achar que eles são tão felizes e tão perfeitos, sorriem o suficiente para enganar todo mundo. Mas você continua observando e quer quase ir lá e tocar para ver se é de verdade. E quando você chega perto você vê. E vê de novo. Esfrega os olhos. E... Shiiii Não conta para ninguém, tá? Mas não é só você que é escangalhada, eu também sou.

Friday, August 16, 2013

Um natal qualquer numa noite qualquer


E dia 25 de dezembro era dia de preparar o almoço natalino com meu pai, tradição que tinha começado alguns antes. Mas esse ano seria ligeiramente diferente, esse ano iríamos cozinhar e almoçar na casa da nova namorada dele: todos os filhos, ele, ela e o irmão dela, que eu nunca tinha visto na vida. Peru, purê de maça, farofa, arroz, salada, brownie e sorvete. Uma ceia completa!
Eu nervosa, toda cheia de farinha no rosto e no cabelo, querendo que tudo saísse perfeito. Uma taça de vinho para acalmar os nervos. E por que cargas d'água eu estou tão nervosa assim? Todo ano é a mesma coisa.
Tocou a campainha, os meus irmãos. Coloca o brownie no forno, queima o dedo. Tocou a campainha de novo, o irmão dela. Com o dedo ardendo saí da cozinha sem nem perceber que tinha chocolate no rosto, olhando atenciosamente para o dedo queimado esperando ver se a bolha crescia. Não cresceu.
- Esse é meu irmão!
Olho para a sala e me deparo com todo a família com suas vestimentas natalinas não tão chiques assim, mas chiques demais para ficar em casa. Ele olha para mim e sorri. E eu não lembrava que ele teria a minha idade. Falei um oi um pouco sem graça, lembrei que eu estava cheia de farinha e corri pro banheiro. Saco, to toda descabelada e ainda com chocolate na testa. Lavei o rosto, penteei o cabelo, troquei de roupa e voltei para sala.
O almoço já estava sendo servido e todos sentavam em torno da mesa. Passa o arroz, agora o purê, quem quer mais peru? E de repente tudo se acalmou e eu vi ele me olhando. Abaixei rapidamente a cabeça e fingi que estava só comendo. Olhei para frente novamente e lá estava ele. Eu sorri e ele sorriu.
Nos encontramos um tempo depois a noite no meio da rua. Ele me convidou para tomar uma cerveja. Sentamos num bar qualquer num bairro qualquer numa cidade qualquer numa noite qualquer. E em como qualquer noite bebemos conversamos e sorrimos. Andando para o carro ele segurou na minha mão, e de mãos dadas fomos andando e andando e ele reclamou que o carro estava longe, e eu disse pra ele deixar de ser preguiçoso. A gente andou mais e mais e chegou na cozinha. Depois no quarto e caímos na cama gargalhando.
- Bom dia simpatia!
Ele disse do outro lado do telefone. E todos os dias do outro lado do telefone, do outro lado da tela, na outra extremidade da América. Até que se calou.
E o natal passou frio e sem neve.

Saturday, September 08, 2012

Para ele, com amor e sordidez

Ela se arruma e se olha no espelho, pensa o quanto mudou todos esses anos. Será que ele vai perceber? Arruma o cabelo de um jeito diferente. Nervosa. Último retoque e um gole de cerveja. Ele já está na porta a sua espera, e ela sai e não consegue conter o sorriso. Das pessoas mais importantes e ele foi também o primeiro. Um abraço largo e apertado.
Pausa.
Na sala de aula eles conversam sem parar e fazem confidências. No alto da serra passam a noite em claro com os corações partidos um no ombro do outro. No bar ele diz que eles devem se casar com 30 anos. Em casa ele diz que não pode ser com qualquer um, e a beija. Na cama... na cama. E na cama.
Pausa. 
Ele liga. Ela vai e agora já tem 25 anos. Conversam como se não tivesse passado tempo algum. Se tocam e sorriem. Se tocam e somem novamente. Faz muito tempo aquilo e não tem mais nada. 
Pausa.
Eles caminham e ela o leva para sua nova vida. E como resumir 4anos em uma noite? Sentados cada um num lado da sala, falam das coisas como se estivessem estado sempre ali. Uma saideira? E ela entende. Se pergunta várias vezes se quer mesmo. Levanta decidida a ir embora. Um longo abraço, saudades, se entreolham. Larga a bolsa, tira a roupa, e pela primeira vez ele a abraça na hora de dormir e beija sua nuca. Ela não dorme. E uma pequena esperança a incomoda. Ela se veste e se despede. Dois beijinhos. Até ano que vem.
Dos mais importantes, e ele foi também o primeiro. Dos mais amados, e ele foi também o que não aconteceu. Dos que passaram, ele foi também o que ficou. Espalhado por todos esses anos, desmembrado, disforme, só de vez enquando, só por uma noite, só porque te amo. Até ano que vem, no altar. 

Monday, August 13, 2012

Vasculho na memória empoeirada as lembranças daqueles dias que me sentia completa, mesmo estando incompleta. Aquele amor todo, daquela forma toda, estranha.
Acho angustia, acho ansiedade, acho magreza, acho uma falsa felicidade e um falso amor. Acho aquilo tudo e aquilo nada. Acho um vazio dentro do peito, que pensava eu estar tão cheio. Acho uma falta, uma saudade, um delírio. Um sentido deturpado que acabou explodindo o que de bom restava ali.

E o coração segue apertado de tanto vazio.

Tuesday, June 19, 2012

13 Horas

Ela. Ele. E todo um mundo no meio. São 30cm e 13h de diferença. Lá do outro lado do mundo ele dirige para o trabalho do lado oposto. Ele se sente sozinho e adota um gato. Aqui desse lado do mundo, ela não gosta de gatos, e olha para o celular de 5 em 5 minutos. Ele escreve às 6 horas da tarde, ela recebe às 5 horas da manhã. Ela acorda, prepara o café. Ele chega do trabalho, prepara o jantar. Celulares a postos. Mensagens. I miss you.
Na mesma cidade eles se olharam. De mãos dadas, ela olha para cima sorrindo, ele olha para baixo e aperta a mão dela. De mãos dadas, no alto do precipício, eles se entreolham e pulam juntos. Ela cai aqui, ele voa lá para o outro lado. Tem a Africa e 13 horas entre eles agora. Mas quando é inverno lá aqui também faz frio. E agora faz frio. Ele dorme quando ela acorda. Oceano Pacífico de um lado, Atlântico e Índico do outro. Três oceanos dividindo a cama junto com eles.
Ela sai para o trabalho, ele se arruma para dormir. Ele sonha com ela e dorme abraçado ao celular. Ela pensa nele. Textos, letras, símbolos, teclas, telas. Eles viram apenas imagens de um amor que passou e continua aqui. Cada um em seu continente. 

Monday, May 14, 2012

Depois de 5 meses 2semanas e 9hs, o piloto anunciou:
- Senhores passageiros dentro de alguns minutos estaremos aterrizando no Rio de Janeiro.
E foi nesse exato instante que algo em mim se perdeu. Eu apertei o cinto, fechei os olhos e quis muito acreditar que estava na verdade aterrizando lá.
Entrei no meu quarto e fiquei sufocada pela vida ali estagnada. Quis quebrar tudo, atirar pela janela as lembranças daquela menina que não existe mais.
Alguns abraços apertados preencheram por frações de segundo o vazio. Mas terminado o abraço o buraco negro aumentava e jogava para longe todos aqueles que costumavam a estar sempre aqui perto. E de repente percebi que perdi meu lugar. Não pertenço mais aqui, não pertenço mais lá. Essa vida aqui parou e eu segui em frente. E como fazer todo mundo entender que eu não sou mais aquela? E pedir por favor, não me perguntem nada! Tudo que eu sabia ficou perdido em algum lugar entre Nyc e Rio.

Wednesday, November 30, 2011

Desaparecida

Ela saiu do carro e ele ficou vendo ela desaparecer no final da rua. Ela não olhou para trás. Ele se arrependeu quando ela estava no meio do caminho, gritou seu nome. Ela não olhou para trás. Desapareceu. Ele enviou mensagens, sinais de fumaça. Desaparecida, ela recebeu. Desaparecida, ela não respondeu. Desaparecida, ela feriu os dedos, trincou os dentes, não dormiu, mas não respondeu.
Ele voltou para casa. Tentou dormir. Rolou de um lado para o outro. A cama não estava vazia. Vazio estava ele, agora. Vazio era ele antes. Vazio eram os dois sem os dois.
Ela relembra a primeira vez. Ele relembra todas as vezes. Ela sente frio na barriga. Ele sente calafrio na espinha. Ela bebe para esquecer. Ele bebe para entender. Eles dormem solitários.
Ela se entregou. Ele se rendeu. Ela chegou atrasada, muito atrasada. Ele não podia mais estar lá. Mas estava. Ela sorriu. Ele segurou em sua mão. Ela o abraçou. Ele a beijou. Ela deitou. Ele deitou.
A cama dela é vazia. A cama dele não. Ela desapareceu. Vazio, ele não dormiu sozinho.
Vazios eram os dois sem os dois.

Sunday, September 18, 2011

Coisas belas e sujas.

Eram dois perdidos numa noite suja. Lapa. Dois perdidos numa noite suja. Manhatan. Se tocam, se enconstam. América do sul, américa do norte e mais um continente a sua escolha. Se tocam, se encostam, se beijam. Aqui é permitido. De moto se misturam nas luzes da cidade. Se embolam, se enroscam. Mudam as malas de lugar. - Cerveja, vinho ou caipirinha? Embebeda ela. Embebeda ele. Embriagam-se juntos. Se perdem na sujeira da noite. Se embolam, se enroscam. Tiram a roupa. Se beijam. Sujos. Sempre de mãos dadas. - Vem, me dá a mão. Embrigados se jogam na sujeira da noite. Assistem. Se beijam. Assistem. Lapdance. Não. - Vem comigo. Em outro continente não conta. Qual continente? Sujos. Embaçam o vidro do carro. Sente o coração dela bater mais rápido. Se jogam na noite, se jogam no alcool, se jogam um no outro. Frio na barriga. Ressaca. Juntos. Coisas belas e sujas. Eles se gostam e se gozam. Dois amantes perdidos numa noite suja. Dois amores sujos perdidos. Amantes, perdidos. Amores, perdidos. Entre coisas belas e sujas. 

Friday, September 09, 2011

Linhas

Entre fios e linhas, ele surgiu dizendo que o jeito dela entrelaçar estava errado. Já cansada e mal-humorada ela bufou. Mas olhou de novo para ele, e sem saber muito por quê, ela olhou de novo. Sentiu vontade de ficar perto. Ele sentou ao seu lado, entrelaçaram juntos as linhas coloridas. Os dedos dela estavam ficando em carne viva. Linhas, fios, cubos, cores. Olhou para ele e não quis mais olhar para ninguém.
Ele ofereceu seu corpo para ela enconstar. - Você é uma graça. Ela sorriu. Ela sorriu. E sorriu. Inesperadamente, ela sorriu mais do que achou que devia.
Esticou o pano colorido com os pés enquanto ele ajeitava as cordas entrelaçando suas mãos nas pernas dela. Medrosa, não o esperou na saída. Combinaram ao som de jazz. Seu corpo magro acolheu ela, preencheu ela. Linhas, cubos, fios, cores, mãos, bocas, corpos entrelaçados. E não, ela não é despretenciosa, mas tem de ser. Vai fugir para outra cidade. Ele então se afasta e diz não. Desolada ela corre e consegue enfim embarcar. Linhas, cubos, cores, se entrelaçam separados.

Wednesday, September 07, 2011

E você veio de novo...

E veio você de novo. Borboletas no estômago. E veio você de novo.
Os anos passaram. Os anos sempre passam. Você volta, eu volto. No meio do caminho, falando outra lingua, nos encontramos depois de alguns anos. E a última vez eu que disse não. Arrependida, chorei no dia em que foi embora. E a vida não quis, a gente tentou, mas a vida não quis. Eu quis e você não. Você quis e eu não. Encontros e desencontros. Amores achados, amores perdidos, o nosso permaneceu. Durante todos esses anos, agora são nove.
E veio você de novo. No alto do prédio, no alto da big apple, você segurou em minha mão. Deu vontade de ter sempre. Dançamos lá, dançamos cá, seguimos a noite de forma peculiar pela cidade dos arranha céus. - Não me solta. - Não te solto. - Amanhã?
Mas você mora lá agora. Eu ainda não sei onde moro.
Por anos reneguei seu amor, meu amor. Hoje volto a dizer:
"E se algum dia a gente se esbarrar e se você quiser, eu te aceito. Eu aceito"


Você disse não. 

http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/10/4.html

Wednesday, August 24, 2011

Silêncio. Ele se distancia bruscamente.

Um buraco se abre. Tão grande que é impossível escrever.

Ela. Um buraco se abre dentro dela. Silêncio.

Tem alguém ai? Cadê aquele que era cúmplice dela?

Silêncio. Esburacada, ela chora.

Saturday, July 16, 2011

Por ti. Por mim. Por nós.

Ontem eu me apaixonei de novo por você. Olhei para ti e vi tudo aquilo que me fazia sorrir há alguns anos atrás. Lembrei de todos os risos, conversas, filmes, idéias, planos, e todo amor. Me indaguei diversas vezes o que aconteceu com a gente, e como chegamos aqui. Esse mix de amor e amizade e carência. Sim. Carência. Pois me parece que agora o que nos alimenta juntos é a carência. E então caímos nos braços um do outro, pois não sabemos mais onde ir. Novamente nos damos nossos ombros, mãos, cabeças, corpos corações. Sem sequer continuidade. Fingimos não saber que amanhã será igual, e que nada acabou ainda. Fingimos, só fingimos.
E sabendo que agora seu sofrimento não pertence mais a mim, seu amor, talvez, também não, prefiro deixar-te. Enquanto ainda sorrimos um para o outro, e dizemos coisas bonitas. Sabendo que já já tudo será briga, mágoa e desencantamento, assim como todas as outras vezes. Deixo-te na hora certa dessa vez, assim espero.
Do alto do meu amor, falo para ti o quanto te amo e quanto gostaria de ser feliz ao seu lado e te fazer feliz, e por isso, agora, abandono a ti, meu amor. Declaro todo o meu amor e sigo para o lado oposto. Faço isso por mim, por você, por aquele "nós" que insiste em existir, que tem vida própria. Por amor a esse "nós" encontro outro caminho e re-aprendo a conhecer a mim mesma sem esse amor.
Te amo. Um beijo. Tchau!


Tuesday, June 28, 2011

Descongela

"Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá...
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza"

Teu olhar triste... solitário. E eu aqui tentando entrar nesse mundo dentro dos seus olhos azuis. Te ofereço minha mão, te ofereço meu colo. Chora, vai?! Chora por ela, chora por mim, mas chora... Descongela. Vem cá... me dá sua mão. Deita aqui ao meu lado. Te ofereço meu conforto, te ofereço meu sorriso. Te dou minhas lágrimas. Meu amor já é seu, meu amor. Seu amor é só seu. Acorda. Acorda e me dá seus braços. Naquele abraço partido, partindo. Deita comigo e chora. No meu ombro, no meu colo, no meu seio. Sofre aqui comigo. Junto. Por mim, por ela, por ti. Mas sofre. Derrete. Vai embora... solta minha mão. Vai com ela, vai sozinho. Vamos juntos? Olha pra mim e olha pra ti. Olha em volta. Vem cá... me dá sua mão. Aperta forte. Escuta agora a canção que eu fiz em silêncio sobre nós dois. Teu olhar triste perdido na cama. Meu olhar triste perdido na cama. Nossa cama. Não cabemos mais em nós.
Meu amor é seu. Seu amor é só seu. Acorda. Descongela. Derrete.

Wednesday, June 22, 2011

Something

É tão estranho quando se sabe, ou acha que sabe, o que o outro está sentindo. Eu sabia que você estava sentindo. Sabia tanto que quase cheguei a tocar. Estiquei o braço, estiquei os dedos, e quando estava quase lá, se dissolveu. E tínhamos um sorriso tão feliz...
Não foi assim como eu senti, nem assim como pensei. Eu vivi aquilo tudo sozinha. Unilateral. Eu senti tanto que cheguei a tocar. Sorria por dentro, sorria por fora, sorria por todos os lados. Ouvi todas as músicas cantando para você. Versos e mais versos inglêses. Me espalhei na arquibancada pois aqui dentro eu já não cabia mais. Desci o espiral transbordando de sentidos. Te olhava e consiguia quase tocar suas sensações. Eram como as minhas. Não. Eu vivi tudo aquilo sozinha. E quis em silêncio "canta para mim, canta?



Monday, April 18, 2011

Escangalhada

O relógio parara de bater. As horas pareciam estáticas. Deitada em sua cama ela olhava para o teto branco e, entre muitos outros pensamentos, ela pensava por que mesmo não tinha pintado o teto de azul? Frio na barriga. Se encolhia. Cobria a cabeça com as cobertas. "Pára dor, pára!" Mas a dor tinha vida própria. O tempo passava rapidamente devagar. Ela não sentia o tempo passar. Ela morria de angustia do tempo que passava.
Tic tac tic tac. Tum tum tum. Seu coração estava estático. Seu corpo tremia de frio e suava de calor. As mãos não paravam. As cutículas insistiam em serem comidas. Feridas. Não pára. Feridas.
Ela olhava para o teto e via imagens deles juntos, deitados ali naquela mesma cama sorrindo. Como eles eram felizes, ou fingiam que eram. Ela havia amado ele com todo o corpo. Ele... ele sim. Ele dizia que sim. Ela não acreditava. Dentro de palavras bonitas, ele dizia pequenas crueldades e se esforçava a todo custo por não demonstrar afeto algum. Ele dizia que amava, mas não queria amar. Ela queria tanto... Ele virou as costas e saiu.
Ela ficou parada, asfixiada. O relógio parou de bater. Ela se olhava no espelho, e por mais que se achasse bonita não via como, não via quando, não via por quê, não via o que de interessante.
Deitada na cama, acordava cada dia ao lado de um. Um, dois, três, quatro, cinco... Ninguém. Não havia um que ela gostasse. Não havia um que gostasse dela. Ela se fechava, expulsava eles de sua cama, ia embora, não ligava. Chorava. Ela não sentia o tempo passar. O tempo passava rapidamente devagar. Ela não sentia o tempo passar. O relógio parara de bater. O coração estava estático. Escangalhou. Escangalhada. Ela estava escangalhada.

Wednesday, April 13, 2011

Me despeço.

Ele se foi e continua aqui. Sentado ao meu lado olho para ele, pego em sua mão e o que mais sinto é saudade. De olhos fechados ele não me olha, ele não me reconhece, ele não sabe meu nome. De olhos abertos eu seguro o choro. Ele não sorri mais com os olhos espremidos. Ele não canta mais, não fala mais coisas engraçadas. Ele não se confude mais. A cabeça dele se confundiu tanto que foi embora de vez. Ele se foi e continua aqui do meu lado.
Ninguém mais vai a praia de chapéu, nenhum indío invade mais a casa, o papagaio não come mais whiskas nem veneno, ninguém ganha mais flores no dia do aniversário. A casa de janela azuis é cada dia mais triste.
Penso que é melhor ele ir logo, penso que queria ele aqui comigo de verdade. Não sei o que pensar. Não gosto mais de olhar para ele, ele não sorri mais para mim. A gente não consegue mais se entender, e eu sofro. A ausência com prensença é mais dolorida que a ausência real.
Sentada ao seu lado, o corpo dói de saudade, os olhos se enchem d'água. Me despeço, ou tento. Ele não está mais lá.

Thursday, March 17, 2011

Deixo estar.

Haviamos chegado a um entendimento: você não me quer, eu te esqueço, e agora seremos amigos. Ponto final. Ou não.
Nesse entendimento eu mergulhei de cabeça, já que não podia mais mergulhar em você. Eu subi a rua, segui os trilhos e te deixei lá. Voltei solitária, pensativa e calma. Eu tinha entendido. Aceitado a nova condição que me impôs. Dei uma volta maior, continuei a seguir os trilhos, só para sentir por mais tempo aquela calma sensação de aceitação do não. Não.
E de repente, não mais que de repente, você me pega e me abraça e me beija. Você descumpriu nosso entendimento. Você me fez desentender tudo e desci a rua escorregando pelos trilhos, correndo. Com medo. Eu entendi e desentendi tudo em frações de segundos e, agora, confusa prometo a mim mesma que não vou mais tentar entender. Deixo estar. Simplesmente estar.

Wednesday, March 02, 2011

Não foi nada

Não foi nada. Eu acordo correndo contra o tempo. Arranhões no carro e no corpo. Mudo de cidade por alguns dias, te deixo. Noite a dentro ouço sua respiração ofegante, suas mãos sobre meu corpo. Penso se queria mesmo aquilo, penso que queria aquilo há um tempo. Assumo. Corro arranhando o carro e o corpo. Deixo de fazer a curva, sigo para a outra cidade.

Pausa.
Subo a rua e te vejo ao longe. Sorriso. Abraço. Samba, cerveja. Entro no quarto escuro, não é você que me segue. Ele entra, borboletas no estômago, você entra em seguida. Deixa ele me olhar, deixa ele me querer. - Vamos subir a ladeira? - E sigo com você. Com você. Deixo as outras borboletas quietas.
Indas e vindas. Você volta e me envolve em seus braços e me convida. Digo que sim. Quero sentir seu corpo pesando sobre o meu. - Pára! Pára! Volta.
Acordo quieta. Acordo parada. Não foi nada. Enrolada na canga te olho e te vejo. O jardim agora é feito só de saudade. O jardim foi guardado no armário. Não foi nada. Digo e repito para mim mesma - Não foi nada!

Tuesday, March 01, 2011

Eu tenho um novo segredo que não inclui você. Você disse e disse e disse. Eu ouvi, e derreti escorrendo por entre seus dedos. Como água. Tenho um segredo, agora, que você não faz parte. E não, não me olha assim, eu não quero. Não vem conversar, não fecha a porta, não entra no quarto. Não fique a sós comigo. Eu não quero. Dói.
Você não disse que não e nem que sim. Entre uma palavra e a outra eu me perdi no seu olhar negro. Não me olha de novo. Não me acha de novo só para me perder de novo. Não me perca de novo.
Fique aí. Eu estou aqui.

Wednesday, January 12, 2011

Vodka com gelo

Sua beleza me assusta. E num momento em que nada mais é belo para mim, te olho nos olhos e sua beleza me dói. Perco o foco. Olho para o lado. Olho para o chão. Esqueço aonde estou. Esqueço meus movimentos. E você me olha nos olhos também. Me abraça um abraço tão grande que eu fico pequenina e sumo dentro dos seus braços.
- Você está diferente - ele diz. Eu nada respondo. - Você não se lembra de mim, não é?
Eu respondo que sim. Ele me olha. Sério. Ele me olha. Não sorri dessa vez. Não sorrio dessa vez.
- Gelo na vodka? - E começamos a falar de vícios e fraquezas e pessoas. Ele me olha nos olhos. Dessa vez sorrimos um para o outro, um sorriso contido por mil palavras. Nervosa não paro de mexer nos cabelos. Ele senta, e levanta, e fala e pensa, e não consegue verbalizar algumas coisas e não consegue ficar parado.
- É difícil.
Digo tchau e ele me dá um longo beijo na bochecha e um longo abraço. Corro amedrontada e assustada com tanta beleza. Chego em casa e me arrependo. - Um sonho e um copo de vodka, por favor?

Thursday, December 09, 2010

Euro Trip

Antes de embarcar eu chorava que nem uma criancinha que acorda com pesadelos longe da mãe. Chorava de medo, de alegria, ansiedade, angustia. Choro adulto e infantil. Respirei fundo e fui. E FUI!
Roma. Londres. Paris. Cada cidade uma viagem. Momentos completamente diferentes, sensações. Andanças, sorrisos, cervejas, conversas, novos lugares, observações, pessoas, olhares, sentimentos, comidas, gargalhadas, danças, inglês, francês, italiano, espanhol, e não, brasileiro não fala espanhol, fala português, elle parle brèsilienne.
Sofri um pouco, perdi bens materiais, me perdi, me apaixonei 2 vezes, me confundi, falei a língua errada no país errado, fui roubada, fui roubada de mim mesma, chorei de tristeza, chorei de alegria, chorei na torre eiffel, chorei saindo de roma, chorei quando cheguei no rio.
Voltei sem me dopar e percebi todos os medos superados, todas as barreiras quebradas e oceanos atravessados.
Deixei as malas ainda feitas no meu quarto por mais de uma semana. Não consegui tocar nelas, iria desfazer toda a viagem e voltar pro mundo real. Não, eu quero aquele mundo aqui junto comigo.
Voltei e não quis sair de casa. Não queria perceber que tinha voltado. Voltei na hora certa e cedo demais. As malas mais vazias. O resto todo mais cheio. Voltei outra na mesma pessoa. Foi difícil e fiquei distante. E agora só quero aquilo que realmente me tire do sério, me faça sorrir aquele sorriso largo e gostoso que não cabe nos lábios.
Voltei e quero tudo novo! Quero tudo de novo! Quero ser essa outra na mesma pessoa.
E desde então, todos os dias eu acordo com uma saudade que me dói no peito.

Monday, October 18, 2010

Shiiiiiiii....

Shiiiii! vamos ficar só um pouquinho em silêncio? Não, não fala nada. Me dá a mão. Não precisa de mais palavras. Já não entendi. Já não entendo. Vamos ouvir só nossa respiração.
Shiiiii! Não fala nada! Não posso mais ouvir. Vamos ficar só um pouquinho em silêncio? Vem, deita aqui comigo. Vamos só nos sentir. Vamos ouvir só nossos suspiros.
Shiiiii! Calma. Tem muito tempo... Não precisamos falar tudo agora. Vamos ficar só um pouquinho em silêncio. Me abraça. Acende um cigarro. Me dá um trago. Solta a fumaça. Não me solta. Shiiiii! tá tudo bem. A gente vai se entender. Agora só precisamos de silêncio. Recosta sua cabeça nos meus seios. Vamos esperar. Em silêncio.

Saturday, September 25, 2010

Inquieta, eu como minhas cutículas tentando entender o que se passou.
A lembraça fica deformda conforme o dia vai passando. As falas se confundem e não sei mais o que foi dito de fato.
Ebulição de pensamentos. Ebulição de sensações. No quarto escuro, a chuva deixamos do lado de fora, acasalamos. Suspiros, sussurros. Fui embora.
Andei solitária na rua, procurando. Estomago doendo de tantas borboletas. Comecei a comer as cutículas feridas. Continuei assim o resto do dia.
Deixo a chuva entrar e termino de ferir os dedos. Não há mais pele. Insisto. Relembro todos os passos da noite. Lembranças deformadas. Palavras esquecidas. Surto dentro daquela noite, e tento engarrafá-la e guardá-la só para mim. Inquieta, sinto vergonha. Encontro rastros de esquecimento em cada pensamento. A noite vai se dissolvendo em outra.

Thursday, September 09, 2010

Wednesday, August 18, 2010

O casal da porta...

Os olhares trocados em praças e bares, entre eles dois, são o ponto principal de toda aquela relação. Relação pela qual eles nem se quer lutam para manter, mas ela se mantém sozinha e atravessa meses, até anos.
Eles se olham. Se olham. Dizem muitas coisas pelos olhos até se aproximarem de verdade. - Linda! - Ele elogia ela sempre que se aproxima. Ela sorri aquele sorriso que não cabe nos lábios. Sorri com os olhos. Não existem muitas palavras, não existe muita verbalização. Eles apenas sentem um ao outro.
Respira fundo. Ela vira as costas e sai. Ele fica desconcertado. Respira fundo. Ela vai voltar. Ele não pode voltar.
- Eu tenho uma vontade de você. - Ele diz e não ouve a resposta. Ela não consegue verbalizar. Pega ele pela mão e deita junto dele. Agora ele conhece o mundo dela. Medo. Agora ela conhece o mundo dele. Medo.
Respira fundo. - Tenho medo de você, vou sumir.
Ela aceita. Ele aceita. De repente estão juntos novamente.
A relação criou vida própria. E ele não pode. E ela... Será mesmo que ela quer?
Existe uma intensidade, uma distância, uma estranheza. Eles se sentem próximos e não conseguem não viver. Ele não pode. Ela não sabe se quer.
Respira fundo. Pula de cabeça.
Cuidado. Ninguém pode saber. Cuidado. Não pode existir mais amor. Para ele existe um outro amor. Para ela existe algum amor.

Friday, July 23, 2010

Desencontro e encontro

O abraço de despedida foi como os abraços antigos: intenso e longo. Uma intensidade que nenhum tipo de distância apagou. As distâncias são quase incontáveis. E eu sei que elas são quase irreversíveis.
Mas aquele abraço se manteve daquele jeito por todos esses anos. Aquela luz no olhar e aquele sorriso. Anos e anos e ainda lá. E como é bonito. Como é bonito.
A história mais bonita de todas - digo eu com um largo e triste sorriso para as pessoas que nunca entendem. Talvez seja um nível de amor que só a gente entenda mesmo.
Te amar parece tão instintivo. Te amar parece tão calmo. E ao mesmo tempo não consigo parar de me mexer ao seu lado.
É um nível de amor que só a gente entende. Mesmo assim eu me perco.E não importa, pois é sensitivo e não racional.
É um amor diferente e peculiar. É um amor tão amor, que às vezes nem parece real. Mas eu também não sei muito bem o que realidade significa. Então escolho esse nosso nível de amor para ter sempre aqui junto de mim. Escolho nosso nível de amor e nossa história. Escolho nosso amor mesmo sendo ele bonito e triste. Escolho nosso amor porque realizar ele não tem tanta importância quanto a existencia dele.
E quero sempre lembrar daquele abraço que continua em meus braços, e daquele olhar que me preenche.
Eu te amo. Aqui. Lá.

Sunday, July 18, 2010

Não havia poesia alguma nele. Não havia aquela arte que exalava pelos póros.
Sua simplicidade foi aos poucos conquistando um sorriso cada vez maior. Ele era calmo, e ela inquieta. Ele ficava mudo, e ela falava coisas bonitas. Ele era inseguro, ela era insegura. Ele não sabia lidar com ela. Ela... ela era intensa. Via tudo de um modo tão diferente que sua visão ficava embassada. E bebia muito para espantar a ansiedade.
Ele não era ansioso. Ele parecia ser tão calmo que dava ela uma certa paz e uma certa segurança das quais ela não estava acostumada. Até que a segurança desmoronou na sua cabeça, junto com o sorriso que agora não podia ser maior. Ela correu, ela correu, ela correu. Mas não conseguiu alcança-lo. Suas palavras eram ouvidas e lidas mas ficavam sempre sem resposta.
Ela, então, comeu toda a cutícula até fazer feridas nos dedos. Triste, parou e disse: ok, agora começa tudo de novo. Tudo novo de novo.

Friday, July 09, 2010

Esse ano ele me deu flores e disse: eu que escolhi para você. Mesmo sabendo que não era verdade eu chorei. Talvez porque eu soubesse que não era verdade. Dia 17 continua sendo mais triste.

Thursday, May 20, 2010

Foi-se o último vestigio concreto. Agora resta só a cicatriz estampando meu rosto que sorri e chora ao mesmo tempo.